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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Casas demolidas e o dólar


Desde o ano passado decidi caminhar pelo menos três dias por semana, uns 40 minutos, para romper com a vida sedentária. Tenho andado pela vizinhança mesmo. Cada dia sigo numa direção: Ibirapuera, Vila Mariana, Bela Vista. Neste último bairro, me surpreendi com a quantidade de casarões antigos, ainda resistindo à especulação imobiliária.

No dia seguinte voltei à Bela Vista com minha câmera fotográfica e registrei várias casas, sobrados e até prédios, todos com história e personalidade. Isso foi em agosto de 2009. Nesta semana voltei a caminhar pelo bairro e a casa da foto aí acima, provavelmente dos anos 1950, na rua Pio XII, já não existe mais. Foi demolida e o terreno está cercado por um tapume, à espera do início das obras de mais um edifício comercial ou residencial.

Uma característica dos países emergentes (que até uns anos atrás eram chamados de "em desenvolvimento") é a impermanencia, a constante mudança de paisagens, tanto no campo quanto nas cidades. O escritor austríaco Stefan Zweig, autor do livro "Brasil, país do futuro", origem da expressão que ouvimos desde criancinhas, notou bem isso. O livro foi escrito no fim dos anos 1930. Ele se encantou com o Rio de Janeiro e São Paulo. Nos trechos abaixo, fica clara a admiração do europeu pela velocidade de crescimento da metrópole paulistana em formação.

"Nenhuma outra cidade do Brasil e poucas do mundo inteiro podem comparar-se em impetuosidade de desenvolvimento a essa, que é a mais ambiciosa e mais dinâmica do país."

"Mesmo o próprio colégio do fundador da cidade, edifício que deveria ter sido conservado como um panteão, há muito foi demolido para em seu lugar ser levantado um prédio qualquer. Do seu século dezessete, do seu século dezoito São Paulo quase nada conservou, e quem quiser ver uma morada paulista do século dezenove, não perca tempo, pois nessa cidade se arrasa com rapidez quase assustadora tudo o que ainda lembra o dia de ontem, o de anteontem. As vezes tem o visitante a impressão de não estar numa cidade, mas sim num enorme local de construção. (...) Quem há cinco anos esteve em São Paulo, voltando ali, sente-se desorientado como se estivesse numa cidade a que chega pela primeira vez."

As observações de Zweig têm mais de 70 anos. Mas a "rapidez quase assustadora" de São Paulo persiste. Vou registrar com minha câmera outros locais na vizinhança. Pelo menos nas fotos, casas e sobrados imponentes continuarão existindo, nos ajudando a recordar uma cidade que se transforma sem parar.

Independência em dólar
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, andou endurecendo o discurso com os americanos, o presidente Lula não quer nem conversa com Obama sobre o caça gringo que está na concorrência, como forma de indicar independência do Brasil em relação aos Estados Unidos. Mas na hora de anunciar ajuda ao Haiti as cifras são em dólar. Dá pra entender?

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