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terça-feira, 23 de março de 2010

Não estou poluindo São Paulo


Fui à Controlar com minha moto XT-660 e fui aprovado - ou melhor, ela foi e com louvor - na inspeção veicular. O permitido para emissão de CO2 é 4,50% e a valente XT só emitiu 2,19%, menos da metade. A máquina aparece aí na foto, estacionada no centro de Monte Alegre do Sul, cidade muito simpática a 130 km de Sampa.

Portanto, estou com minha consciência mais leve, já que as motos são frequentemente acusadas de poluir mais que os carros. Isso foi anos atrás, agora todos os veículos têm que sair de fábrica com um limite máximo de emissão. Destaco esse ponto porque há menos de uma semana o jornalista Fernando de Barros e Silva, editorialista da "Folha de S. Paulo", escreveu um texto irado, afirmando que "não existe categoria que desperte no conjunto da população tanta animosidade quanto a dos motoboys. Sim, é uma animosidade de mão dupla. O inferno, para eles, somos nós - tiozinhos e dondocas nos carrões, taxistas e ônibus, cada qual disputando a primazia sobre o asfalto escasso."

Prossegue o escrevinhador:

"Nenhuma grande cidade do mundo resolveu seu trânsito incentivando o uso de motos. É um veículo perigoso, individualista ao extremo, além de barulhento e poluente. E há motos demais em São Paulo. Em 2000, eram 348 mil. Hoje, já são 824 mil, mais do que o dobro."

Barros e Silva prossegue comentando a faixa exclusiva para motos, que a Prefetura está construindo na rua Vergueiro e a proibição das motos na via expressa da marginal do Tietê e dpois em parte da avenida 23 de Maio. Diz que isso é só enxugar gelo.

Mesmo sendo um motociclista que usa o veículo para transporte pessoal, considerei o editorial preconceituoso e desinformado. Ora, se as motos agora são 829.462 (até fevereiro, segundo o Detran), os carros circulando já passam de 4.985.768, sem contar utilitários e caminhonetes, o que deve elevar a frota particular de quatro rodas para algo em torno de 5,5 milhões de veículos. Isso só na capital.

As motos são veículos perigosos, individualistas, barulhentos e poluentes, garante Barros e Silva. Posso garantir ao colega jornalista que a minha motocicleta não polui mais que o carro dele, nem é barulhenta. Perigoso é viver, sair de casa, sr. Barros e Silva. Agora individualista ela é mesmo. As motos são feitas para transportar no máximo duas pessoas. Já os carros, que podem levar 4, 5 ou até 7 pessoas, são vistos, quase sempre, apenas com o condutor. Isso não é individualismo?

Bem, pra terminar reproduzo aqui a carta que enviei para a sessão do Leitor da "Folha" comentando o artigo, mas não foi publicada:

"Fiquei espantado com o nível de preconceito que destila do texto do sr. Fernando de Barros e Silva contra os motociclistas. Tenho 53 anos, tenho carro e uma moto de 660 cilidradas que uso como veículo de transporte. Claro que boa parte dos motoboys circula perigosamente, mas, por experiência própria, vejo que se irritam pelo egoísmo de motoristas que dirigem como se estivessem sozinhos no trânsito.

A Prefeitura deveria é exigir e oferecer gratuitamente treinamento para todos eles, e não simplesmente proibir o tráfego em vias, isso me parece até inconstitucional.

Além disso, veículo individualista ao extremo é o carro, o jipão, que transporta uma única pessoa, quando comportaria quatro ou cinco. As motos são feitas para serem veículos individuais, para ocuparem menos espaço nas grandes cidades.

Gostaria de lembrar palavras do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em entrevista que fiz com ele para o Centro Novo, há dois ou três anos: “O transporte individual é uma das atividades mais idiotas e antieconômicas. Você vê uma pessoa que pesa 70 quilos entrar numa lata de 700, 800 quilos, que para se movimentar precisa do petróleo retirado das entranhas da terra lá na Arábia Saudita ou no Iraque. E tudo isso para quê? Para levar essa pessoa ao shopping, onde vai comprar duas beringelas e uma couve-flor. Ou então essa pessoa de 70 quilos põe no carro uma criança de 40 quilos para levá-la à escola. Do ponto de vista da inteligência humana, o carro é uma máquina estúpida e extremamente cara." Fica aqui para o sr. Barros e Silva refletir."

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